O aspecto de empada não se coadunava com a contundência da frase-bomba "prova, isto roça a perfeição". Franzi o sobrolho e dei espaço a nova carga: "é apenas o melhor bolo do mundo". Um "apenas" dito com todas as maiúsculas. E depois pensado por mim a minúsculas de dúvida. Porque evidentemente, homessa!, se provasse o bolo a seguir, a experiência defraudaria as expectativas. Que podia lá ser, que havia bolos melhores, está bem que nem é mau, mas o melhor bolo do mundo?
A verdade é que é o melhor bolo do mundo. E ainda bem que o parágrafo anterior é ficcional. Porque se aquele diálogo tivesse mesmo tido lugar, eu não era capaz de o admitir. Uma epifania não é uma epifania se não tiver semente em mim próprio. Metido na minha vida, num dia normal no café, sem expectativas nem alardes, o pampilho fez-me franzir o sobrolho, mas de mim para mim mesmo. Surrurrou parte do cérebro para a outra: como é possível, esta tão relaxada inconsistência entre o aspecto e o sabor? E a massa? E o recheio? Que descoberta.
Pode ser um cliché dizer que descobrir por nós mesmos não tem comparação. Mas não tem mesmo. E este texto não é só sobre pampilhos.
E este texto não é só sobre pampilhos
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segunda-feira, 10 de maio de 2010 |
Postado por
Tiago
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