É mais rápido

Posted: sexta-feira, 14 de maio de 2010 | Postado por Tiago |

Personagem ignota em determinada fita norte-americana disse:


- Sou como a minha mãe. Uso estereótipos, é mais rápido.

Creio que nas sociedades actuais não nascemos com tendência a estereotipar, mas eventualmente acabamos todos como a nossa mãe. Mas não só por ser mais rápido. Até porque o estereótipo não se forma por geração espontânea.

Vejamos a concordância entre o sujeito e o predicado, mas fora do domínio linguístico. Falo de sujeito, pessoa de corpo, e predicado, caracterização quer do seu semblante quer da sua roupagem. Na regras tradicionais da sintaxe, essa concordância é obrigatória. Mas também na vida real ela é altamente aconselhável.

Um artista que parece um artista beneficia-se a ele próprio, desde logo porque vende mais. Mas não só. A cacofonia de cabelos de um violinista que parece ter ponderado o suicídio a cada momento da sua existência chamou-me a atenção num concerto recente. Ali estava ele, o violinista, tal como sempre o imaginei. Tal como o teria estereotipado. O peso da cara dele agravou a gravidade da minha, e também a música soou diferente. E eu pensei que nunca um estereótipo tinha feito tanto por mim, pela minha sensibilidade musical. Olhei para os pêlos eriçados, e pensei na minha mãe.